terça-feira, 7 de julho de 2009

"Deveria haver 'táxis-rosa' no mundo inteiro", diz mulher que criou serviço especial para mulheres


Em março, Nawal Yaghi Fakhry criou em Beirute uma empresa de táxis dirigidos por mulheres e reservados a uma clientela feminina. Eles funcionam 24 horas por dia, todos os dias, devem ser chamados por telefone e são um pouco mais caros que alguns outros táxis - em Beirute, não há preços fixos para as corridas de táxi. Ela iniciou sua empreitada com três veículos, mas diante do sucesso, ela adquiriu mais 25 em algumas semanas. Sua iniciativa lhe rede visitas de mídias do mundo inteiro e de várias fontes na Internet, onde se pode consultar seu site (Banettaxi.com). Em uma manhã de junho, em seu escritório de um bairro chique da cidade, ela recebia a televisão canadense e o "Le Monde". Esses táxis também são tema de controvérsia em um mundo onde, cada vez mais, tende-se separar novamente homens e mulheres.

Taxi rosa

* Reprodução

Site da empresa Banet Taxi mostra seus veículos

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Le Monde: Por que táxis reservados às mulheres em Beirute, onde a maioria delas pode circular livremente? Isso não é aceitar, ou até incentivar discriminações que foram combatidas por anos e voltam agora com força?
Nawal Yaghi Fakhry: Sempre me fazem essa pergunta, porque se enganam quanto ao que motivou a criação de minha empresa, e porque ela se encontra em um país do Oriente Médio. Mas minha iniciativa não tem nada de discriminatório. Não criei esses táxis para mulheres cujos maridos as impedem de sair, de tomar táxis que normalmente são dirigidos por homens. Esses que me criticam não tentam entender minha iniciativa. Além disso, no Líbano sempre há pessoas que são negativas logo de início.

Le Monde: Mas essas mulheres, que usam véu e saem pouco, não são a maioria de sua clientela?
Fakhry: De forma alguma. Algumas tomam meus táxis, é claro, e se isso lhes permite que se movimentem mais livremente, ótimo, mas meu objetivo não era oferecer prioritariamente uma solução a essas mulheres, ajudá-las a saírem de casa. Para mim, trata-se de algo completamente diferente.

Para que me entendam, devo contar um pouco da minha história. Eu trabalhava aqui em um banco, e saí de lá para abrir minha própria empresa, um instituto de beleza. Eu queria utilizar produtos naturais, e sabia que os encontraria na Tailândia. Então fui para lá por quinze dias, e tive a ajuda de um guia. Mas, para tudo que eu pedia, o guia, assim como os motoristas de táxi, chamavam suas mulheres, suas namoradas, suas irmãs, para me ajudar. Eles basicamente conheciam os lugares aonde se costumam levar turistas, ou os grandes supermercados. No último dia, o guia me enviou uma de suas amigas junto com seu carro. Eu trabalhei melhor naquele dia do que em toda minha estadia. Foi lá que me veio a ideia dos táxis de mulheres para mulheres, que saberiam imediatamente guiá-las em suas compras. Além disso, na Tailândia, havia táxis de todas as cores, e os cor-de-rosa me seduziram. Tirei foto deles e comecei a sonhar com tudo isso, e passei para a realização do meu projeto. Quando voltei, paralelamente a meu instituto de beleza, criei minha companhia de táxis. Para recrutar motoristas mulheres, coloquei um anúncio, dizendo simplesmente que era preciso ter pelo menos 30 anos e gostar de dirigir. Eu não disse logo de início que era preciso conhecer bem a cidade, e que seria preciso em seguida realizar uma prova para obter uma licença de motorista de táxi. As candidaturas vieram aos montes, e continuam vindo. Também contrato estagiárias para iniciarem sua formação.

Le Monde: O cor-de-rosa é a cor tradicional das meninas. Não é muito convencional?
Fakhry: Talvez, mas é verdade que é um sinal de identificação clara. Acho que mesmo que eu não os tivesse chamado de "Banet Taxis", ou "táxis de garotas", eles teriam sido batizados assim por causa da cor. E por acaso eu adoro o rosa e as rosas. Todas as motoristas usam uma. Além disso, dessa forma nossos táxis se distinguem de todos os outros. E nenhum carro pode ser pintado naquele tom de rosa, é uma cor que foi feita especialmente para meus táxis.

Le Monde: Os homens estão totalmente excluídos?
Fakhry: Não se estiverem com uma mulher. Mas sozinhos, sim. Com algumas exceções. Recentemente, uma mulher nos pediu par cuidar de seu pai, idoso e frágil, que tinha medo de andar de táxi. Medo de ser sacudido, jogado de um lado para outro. Conosco, ele se sentia mais seguro, com mulheres que dirigem de forma mais delicada. Nós aceitamos.

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